sábado, 8 de maio de 2010

Chuva em mim

A chuva se espalha pela madrugada,
Tal qual, eu vou pelas ruas à toa...
...E vou mesmo com a alma já calejada
Pelos obstáculos e espinhos da vida...
Vou vagando pela memória perdida
Tal qual um labirinto cheio de escolhas
Nas noites meu coração é névoa
Vou soprando pelas ruas como folhas

De um livro bailando numa mansa aragem
Sem regras, sem destino, num sopro esmo
Velozmente passo como uma miragem
Pelas formosas manhãs de primavera
Mesmo que paz dentro mim jamais houvera
Que meu coração fora mil retalhos.
Dia e noite o mesmo soprar... Sempre o mesmo!...
Sou simples folhas desprendidas dos galhos...

Sou chuva pela madrugada silente,
Em trovões e raios sou amor selvagem
Sou um pensamento tão incoerente
Sou manso lago, sou louca tempestade...
Sou pesadelo, sonho, clamor, vaidade...
Sou humanamente divino! Tão franzino!...
Sou desejo, sou eterno, sou passagem
Sou anseio, sou a busca do destino

A chuva molha meus lábios num manso
Toque, tal qual quando os sutis lábios dela
Tocavam os meus fazendo um remanso
Jardim repleto de flores primorosas...
Um arco-íris de cores harmoniosas...
Ó! Sou selva, sou fogo, sou ar, sou terra
Sou chuva! Que purifica e se revela
Em mansas brisas e bramidos de fera...

A chuva se derramada no horizonte
E se derrama num suave perfume
És mansidão, és promessa, mansa fonte,
Por um plácido manto sou envolvido
Pelo céu anil, sou brisa, sou gemido
Andando pela madrugada silente
No firmamento sou estrela que lume
Sou folha bailando no vento rangente

Sou chuva, sou sol, sou poesia, sou dança
Aí! Sou tão culto, sou tão oculto, um vulto...
Sou pensamento, sou lança sou lembrança
Sou silêncio, terremoto, sou remorso...
Sou divino, sou menino, sou esforço,
Descansa! Sim, descansa pobre criança!
Que amanhã de novo, serás um adulto!
Sereis folhas sopradas na aragem mansa...


*
Joselito de S. Bertoglio

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