sexta-feira, 30 de abril de 2010

Olhai os lírios do campo, eles estão mortos.

Olhai os lírios do campo, eles estão mortos.

Uma criança analfabeta passa o dia na rua, pequenos furtos e mendicância, não há comida em casa, apenas maus tratos; as drogas já se inseriram em sua vida, espantam o frio e a fome.
Um dia não mais voltará àquilo que deveria ser um lar, encontrará o remedo de uma família na rua.
O caminho da marginalidade a levará a crimes maiores e seu fim será precoce, não antes de propagar o mal multiplicado, o mal que foi vítima, o mal que poderia ser evitado.
Um pai morre no corredor de um pronto atendimento.
A instituição não tinha medicamentos, não tinha leitos suficientes; os seus médicos (mal remunerados) assim como seus funcionários não dão mais conta do recado, faltam recursos ao hospital público.
O defunto por não ter dinheiro, foi morto, pena capital ao miserável.
Sem emprego há muitos anos, vivia de bicos, quando não estava embriagado no boteco, pois a caninha saia mais barata e sua vida era insignificante, não valia à pena.
Sua mulher ainda não se sabe viúva e seus filhos estão na rua.
Talvez, um ou mais não voltem.
O idoso no depósito (com o nome pomposo de asilo) fez uma refeição, o estômago doído, comida vencida.
Mas melhor doído do que vazio, às vezes nem comida estragada serviam.
Seu companheiro ao lado, fede, não se sabe porque há horas não limpam suas fezes, ou porque as suas feridas estão mais podres.
Médico lá nunca viu, nem ao menos enfermeira.
Percebe sem ânimo larvas na ferida de seu companheiro.
Nem mais a saudade do nordeste sente, fome e frio ainda sente.
O que não sabe ele nem o estômago doído é que um dos seus doze filhos em maca de hospital está inerte e frio.
Ah, gordo, culto e bem servido, lá está o funcionário público eleito, dono de vasto império. Fortuna fez em roubalheiras, tem canais de rádio e televisão, dezenas de empresas e até fantasmas como funcionários lhe servem bem.
Alimenta-se do dinheiro do povo, mas com povo quem se importa?
Rouba muito e muito mais mata os servis que do Estado deveriam ter o mínimo de suporte.
Mas o Estado, tristemente, aos vampiros corruptos apenas importa.
A impunidade lhes dá poder, na Índia não estamos, mas criaram nova casta.
Eles tudo têm e nós limpamos suas fossas.
O judiciário, legislativo e executivo promiscuídos, indiferentes ao povo que urra, grita, sofre e morre.
O Brasil em impunidade se afunda, nós na lama e os corruptos de iate.
Olhais os lírios do campo, a impunidade deixou que os corruptos o matassem.

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Vassalo das Letras.

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